Lembra de quando a Mtv era sinônimo de reality shows de baixo orçamento, desde o pioneiríssimo "Real World" até o mais recente e vergonhoso "Jersey Shore"? Ou de draminhas adolescentes experimentais ao estilo de "My Life as Liz" (que a patroa adora)?
Pois parece que a emissora da música está querendo mudar isso. Ano passado a Mtv acertou em cheio com "The Hard Times of R.J. Berger", comédia sobre um nerd impopular "amaldiçoado" com uma benga gigante. Co-criada e produzida por Seth Grahame-Smith (que ficou famoso por livros como "Orgulho e Preconceito e Zumbis" e "Abraham Lincoln, Caçador de Vampiros"), a série é uma espécie de mistura entre "Anos Incríveis" e "Superbad", cujo tema principal é o sexo. Isso se traduz nas inseguranças do personagem principal, RJ, nas obsessões do melhor amigo Miles, na paixão proferida pela amiga Lilly e até mesmo na estranha relação de RJ com os pais, um casal de swingers assumidos. A série se tornou o maior sucesso da emissora em três anos entre espectadores de 12 a 34 anos, garantindo uma segunda temporada, exibida de março a maio deste ano.
Isso provavelmente deu gás pra Mtv experimentar novas séries como a recém-lançada "Teen Wolf", adaptação do clássico da sessão da tarde com Michael J. Fox, traduzido no Brasil como "O Garoto do Futuro" (tentando capitalizar em cima do sucesso de outro famoso filme de Fox, "De volta para o futuro"). Algumas coisas continuam iguais: ambas as versões tratam de um jovem chamado Scott, com um amigo chamado Styles, e que ao se transformar em lobisomem vê uma chance de aproveitar os novos poderes para se dar bem no esporte e com o sexo oposto. Mas as similaridades param por aí. Diferentemente do filme original (e de sua sequência, e de sua série animada), o novo Teen Wolf deixa de lado toda a comédia adolescente para desenvolver uma história mais dramática, mais romântica e mais direcionada à "geração crepúsculo". Scott agora joga lacrosse, ao invés de basquete, e sua transformação é resultado da mordida de um outro lobisomem, e não de uma herança familiar. Os resultados dessa transformação são também muito mais violentos, fazendo com que Scott imagine o tempo todo se não irá se transformar no momento errado e acabar matando alguém (especialmente aqueles que ama). Juntam-se à trama o misterioso Derek, a princípio confundido com um vilão, mas que se torna uma espécie de guru para Scott, ensinando-o a controlar a transformação e a utilizar suas habilidades (embora a um custo que Scott provavelmente não vai gostar); e a recém-transferida Allison, interesse amoroso de Scott e filha de um caçador de lobisomens. Apesar das óbvias inspirações na obra de Stephanie Meyer (que é indigna desse sobrenome e provavelmente arruinou vampiros e lobisomens para as próximas gerações), o resultado não é dos piores. Talvez o detalhe mais constrangedor seja a própria transformação de Scott, uma mistura entre Wolverine e Eddie Monstro (o menino lobisomem de "Família Monstro"), com muita maquiagem da irmã e pouco pêlo. Em dado momento do terceiro episódio a expectativa aumenta quando Derek, o bad boy/guru, está prestes a se transformar pela primeira vez em tela. E o resultado é ainda mais ridículo.
De qualquer forma, depois do fracasso de "Skins" (série britânica adaptada para os EUA pela Mtv e que foi alvo de muitas críticas, além de ter visto os patrocinadores debandarem, por lidar som nudez e sexualidade), "RJ Berger" e "Teen Wolf" estão abrindo caminho para que a Mtv finalmente saia do buraco dos reality shows e passe a investir em interessantes (se não "bons") dramas. A emissora já confirmou duas novas séries: "That Girl", sobre uma garota de 15 anos que ganha notoriedade após sofrer um acidente confundido com uma tentativa de suicídio, e "Death Valley", comédia filmada em estilo documentário que mostrará uma força tarefa especial combatendo zumbis, vampiros e lobisomens.