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terça-feira, 14 de junho de 2011

Lembra de quando a Mtv era sinônimo de reality shows de baixo orçamento, desde o pioneiríssimo "Real World" até o mais recente e vergonhoso "Jersey Shore"? Ou de draminhas adolescentes experimentais ao estilo de "My Life as Liz" (que a patroa adora)?
Pois parece que a emissora da música está querendo mudar isso. Ano passado a Mtv acertou em cheio com "The Hard Times of R.J. Berger", comédia sobre um nerd impopular "amaldiçoado" com uma benga gigante. Co-criada e produzida por Seth Grahame-Smith (que ficou famoso por livros como "Orgulho e Preconceito e Zumbis" e "Abraham Lincoln, Caçador de Vampiros"), a série é uma espécie de mistura entre "Anos Incríveis" e "Superbad", cujo tema principal é o sexo. Isso se traduz nas inseguranças do personagem principal, RJ, nas obsessões do melhor amigo Miles, na paixão proferida pela amiga Lilly e até mesmo na estranha relação de RJ com os pais, um casal de swingers assumidos. A série se tornou o maior sucesso da emissora em três anos entre espectadores de 12 a 34 anos, garantindo uma segunda temporada, exibida de março a maio deste ano. Isso provavelmente deu gás pra Mtv experimentar novas séries como a recém-lançada "Teen Wolf", adaptação do clássico da sessão da tarde com Michael J. Fox, traduzido no Brasil como "O Garoto do Futuro" (tentando capitalizar em cima do sucesso de outro famoso filme de Fox, "De volta para o futuro"). Algumas coisas continuam iguais: ambas as versões tratam de um jovem chamado Scott, com um amigo chamado Styles, e que ao se transformar em lobisomem vê uma chance de aproveitar os novos poderes para se dar bem no esporte e com o sexo oposto. Mas as similaridades param por aí. Diferentemente do filme original (e de sua sequência, e de sua série animada), o novo Teen Wolf deixa de lado toda a comédia adolescente para desenvolver uma história mais dramática, mais romântica e mais direcionada à "geração crepúsculo". Scott agora joga lacrosse, ao invés de basquete, e sua transformação é resultado da mordida de um outro lobisomem, e não de uma herança familiar. Os resultados dessa transformação são também muito mais violentos, fazendo com que Scott imagine o tempo todo se não irá se transformar no momento errado e acabar matando alguém (especialmente aqueles que ama). Juntam-se à trama o misterioso Derek, a princípio confundido com um vilão, mas que se torna uma espécie de guru para Scott, ensinando-o a controlar a transformação e a utilizar suas habilidades (embora a um custo que Scott provavelmente não vai gostar); e a recém-transferida Allison, interesse amoroso de Scott e filha de um caçador de lobisomens. Apesar das óbvias inspirações na obra de Stephanie Meyer (que é indigna desse sobrenome e provavelmente arruinou vampiros e lobisomens para as próximas gerações), o resultado não é dos piores. Talvez o detalhe mais constrangedor seja a própria transformação de Scott, uma mistura entre Wolverine e Eddie Monstro (o menino lobisomem de "Família Monstro"), com muita maquiagem da irmã e pouco pêlo. Em dado momento do terceiro episódio a expectativa aumenta quando Derek, o bad boy/guru, está prestes a se transformar pela primeira vez em tela. E o resultado é ainda mais ridículo.
De qualquer forma, depois do fracasso de "Skins" (série britânica adaptada para os EUA pela Mtv e que foi alvo de muitas críticas, além de ter visto os patrocinadores debandarem, por lidar som nudez e sexualidade), "RJ Berger" e "Teen Wolf" estão abrindo caminho para que a Mtv finalmente saia do buraco dos reality shows e passe a investir em interessantes (se não "bons") dramas. A emissora já confirmou duas novas séries: "That Girl", sobre uma garota de 15 anos que ganha notoriedade após sofrer um acidente confundido com uma tentativa de suicídio, e "Death Valley", comédia filmada em estilo documentário que mostrará uma força tarefa especial combatendo zumbis, vampiros e lobisomens.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Dois filmes que me surpreenderam

Esta semana me deparei com dois filmes que me deixaram de queixo caído. O motivo disso não foram atuações dignas de Oscar ou roteiros super originais, e sim o fato de que, normalmente, eu nem passaria perto desses filmes. O que me levou a assistí-los foi um misto de ócio, acaso e breve confusão, mas nos dois casos descobri filmes interessantíssimos e que valem a indicação aos amigos. Eis eles.

Filme: Chalet Girl

Sinopse: Após a morte trágica da mãe, Kim abandona uma carreira promissora como skatista e passa a trabalhar num fast-food para ajudar o pai desempregado. Com as contas acumulando, ela recebe a irrecusável proposta de trabalhar quatro meses num resort de esqui na Áustria, onde encontra uma velha prancha de snowboard e percebe que tem um talento natural para o esporte. Envolvida por um mundo de luxo e glamour totalmente diferente do seu, Kim logo chama a atenção de um dos patrões, Johnny, e tem de lutar contra antigos traumas.

Motivo do preconceito: Sério? Mais uma comédia romântica da garota pobre que se envolve com o menino rico? Nos primeiros 15 minutos de filme alguém tem alguma dúvida de que Kim vai ganhar o campeonato de snowboard e agarrar o ricaço? Além do mais, não podiam arrumar alguém menos canastrão que Ed Westwick (o Chuck de Gossip Girl) pra fazer o galã?

Motivo da surpresa: Apesar dos clichês e das poucas surpresas, o resultado é um filme divertido e cativante, que em muitos pontos lembra "Bend it like Beckham", outra comédia britânica (Chalet Girl foi produzido na Inglaterra com fundos da Loteria Nacional) de sucesso com uma protagonista feminina. Westiwick conseguiu exorcizar o tarado Chuck Bass e surpreende ao interpretar um sincero garoto de alta classe que sonha em mandar a família às favas para se tornar um astro do rock (embora o filme deixe uma sensação de que este lado do personagem poderia ter sido mais explorado). Apesar da ótima atuação de Felicity Jones como a "pé no chão" Kim, o destaque fica para Tamsin Egerton no papel da oportunista "loura-burra" Georgie, colega de Kim no chalé; e para Ken Duken como Mikki, um desleixado esportista que acaba virando uma espécie de treinador para Kim.

Filme: Beastly (A Fera)

Sinopse: Kyle Kingson tem tudo: inteligência, beleza, riqueza e boas oportunidades, mas possui uma personalidade perversa e cruel. Após humilhar uma colega de classe, ele é amaldiçoado se torna tudo o que ele despreza. A única maneira de quebrar o feitiço é fazer com que alguém consiga amá-lo, algo que ele considera impossível.

Motivo do preconceito: Okay. É uma versão moderna de "A Bela e a Fera" com Vanessa Hudgens (de High School Musical) e Mary-Kate Olsen. Precisa dizer mais?

Motivo da surpresa: Longe de ser mais uma comédia adolescente com um toque de romance verdadeiro, Beastly é um filme muito mais sombrio do que se pode esperar. Diferentemente de adaptações anteriores, onde o protagonista se transformava em uma "fera", aqui essa transformação tem muito mais a ver com estereótipos de beleza, e é traduzida num corpo e rosto tatuados e cobertos de cicatrizes. Ironicamente, o resultado me lembrou muito o personagem Spider Jerusalem, da HQ Transmetropolitan (veja abaixo). A mensagem dessa vez tem a ver com ser aceito, e aceitar a si mesmo (tema altamente em voga hoje em dia, quando tanto se fala das consequências do bullying). Outro ponto interessante é a forma como Kyle se relaciona com o mundo exterior depois de se isolar, espiando os antigos colegas e a nova paixão por meio de redes sociais, e finalmente descobrindo o que as outras pessoas pensam dele (com ou sem beleza). Mary-Kate não é um primor em atuação, mas funciona bem como a "estranhinha" do colégio e justifica o apelido recebido dos colegas: Bruxa. Ela e Hudgens, se não trazem nada de fenomenal, pelo menos não atrapalham. O grande trunfo do filme está no roteiro, que sabe onde atualizar a fábula e onde mantê-la intacta, sem no entanto parecer algo forçado.

(Kyle, "a fera", e Spider Jerusalem)